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segunda-feira, 29 de setembro de 2014

MUNDO: A irreverente Mafalda assopra 50 velinhas

“Mais do que um planeta, este aqui é uma grande casa da mãe Joana espacial!”, dizia Mafalda

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Mafalda, a inconformista menina-filósofa com senso de humor ferino, que analisa a conjuntura mundial e é apaixonada pelos Beatles (e odeia a sopa que sua mãe prepara) é o cartum argentino mais famoso em todo o planeta (foto de Ariel Palacios).
“Que lo cumplas feliz (Parabens pra você), Mafalda!” (ou, como ela disse em uma tirinha, Jápi bársdei tuyú!”)
Hoje, 29 de setembro Mafalda assopra 50 velinhas.
O motivo desta data é que há meio século, para os portenhos deste mundo de carne e osso (e não de nanquim), Mafalda debutou para o público no 29 de setembro de 1964. Nesse dia ela virou tirinha na revista “Primera Plana”. Seis meses depois Mafalda mudou de ‘casa’ e começou a ser publicada pelo jornal “El Mundo”.
Mas, na Buenos Aires de tinta nanquim ela nasceu “oficialmente” no dia 15 de março de 1962. Nessa data ela foi criada para uma propaganda de um eletrodoméstico da empresa Mansfield.
No entanto, quando ela nasceu na tirinha (em 1964), Mafalda não “nasceu” com zero anos…ela tinha “6 anos” (e começava a escola). Isto é, teria nascido em 1958.
Portanto, hoje Mafalda teria 56 anos. Ou 50, se levarmos em conta sua estreia oficial para o público no jornal. Ou 52 anos, se levarmos em conta que, quando apareceu para os leitores (os das tirinhas, não os da publicidade) pela primeira vez tinha uma idade “quadrinhística” de seis anos de idade.
Segundo seu “pai” (não o dos quadrinhos, mas sim, seu autor), Joaquín Lavado (famoso mundialmente por seu apelido familiar/nome artístico Quino), o aniversário de Mafalda é hoje. Se bem que há dois anos o próprio Quino também aceitava a data de 1962…Discussões à parte, qualquer desculpa é sempre oportuna para celebrar a efeméride mafaldiana.

Mafalda foi publicada somente entre 1964 e 1973. No entanto, a tirinha continua sendo um boom de vendas em inúmeras reedições na Argentina e no resto do mundo.
Depois de Mafalda, Quino continuou tendo amplo sucesso com outras charges e tiras. Desde os anos 70 o desenhista reside na Europa.
Charles M. Schultz (1922-2000), o criador do personagem Snoopy, da tirinha Charlie Brown, costumava definir Quino como “um gigante”.

E, para celebrar este aniversário, aqui seguem uma série de frases desta emblemática menina-filósofa, que tornou-se ícone da rebeldia e foi/é adorada por milhões de leitores em todo o mundo.
Aliás, entre estes, além de Umberto Eco (fascinado por Mafalda, escreveu um ensaio sobre a menina) estavam o autor de “O jogo da amarelinha”, o escritor Júlio Cortázar (que lia sempre suas tirinhas). Cortázar disse sobre ela em 1973: “O que é que eu penso da Mafalda? Isso não importa! O importante é o que é que a Mafalda pensa de mim!”.

FRASES DE MAFALDA
“Mais do que um planeta, este aqui é uma grande casa da mãe Joana espacial!”
“Não há nada! Em todos os canais só há televisão! (Mafalda, procurando algum programa bom na TV)
“E por favor, senhor, que nunca sejamos o presunto do sanduíche internacional” (Mafalda, à noite, rezando)
“O negocio é encarar a artificialidade com naturalidade”
“O pior é que a piora começa a piorar”
“Todos acreditamos no país! O que já não sei a esta altura é se o país acredita na gente…”
“Estamos fritos rapazes! Acontece que, se a gente não se apressa em mudar o mundo, depois é o mundo que muda a gente…”
 “Parem o mundo, que eu quero descer!”
“E Deus terá patenteado a ideia deste manicômio redondo?” (pensa, depois de olhar para o globo terrestre na sala de sua casa)
 “Todos acreditamos no país…o que a gente não sabe é se neste ponto das coisas o país acredita na gente!”
“Se viver é durar, prefiro uma canção dos Beatles em vez de um long play dos Boston Pops”
“Não é que não haja bondade..o que acontece é que ela está incógnita”
“Errare politicum est”

“Veem? Esta é a varetinha de esmagar ideologias” (Mafalda avalia as funções do cassetete)
TOUR MAFALDIANO PORTENHO
Durante décadas, o lugar de residência de Mafalda foi um mistério. Sabia-se que ela ‘morava’ na capital argentina. Mas o bairro era desconhecido. No entanto, há poucos anos esse segredo foi revelado. Um grupo de jornalistas, fãs de Quino, analisou cada detalhe das declarações do cartunista à imprensa na qual dava pistas sobre o eventual ‘bairro mafaldiano’. Além disso, verificaram que diversos prédios de uma área central de Buenos Aires correspondiam aos desenhos das tirinhas de Quino, além do ônibus da linha número 86.
O resultado da pesquisa, posteriormente confirmada por Quino, foi que San Telmo era o bairro da menina autora de frases como “hoje entrei no mundo pela porta traseira” e “não é verdade que o passado foi melhor, o que acontece é que aqueles que estavam em má situação ainda não haviam percebido isso”.
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Felipe, Manolito, Susanita, Mafalda, Libertad, os pais de Mafalda, Guille e Miguelito
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Placa que a prefeitura levou anos em colocar, indica que ali morou Mafalda (foto de Ariel Palacios)
ESCULTURA
Há poucos anos o escultor Pablo Irrgang inaugurou uma escultura de Mafalda – em tamanho ‘real’ – que foi colocada quase na frente da porta do prédio. Os moradores do edifício onde viveu Quino – e também sua criação – ficaram exultantes.
No mesmo quarteirão, na esquina com a rua Balcarce, está o estacionamento onde o pai da heroína de Quino guardava todas as noites seu carrinho Citröen, com o qual a família passeava e ia de férias.
Na frente do prédio de Mafalda, atravessando a rua, já em San Telmo, está a banca de jornais de “Don Jorge” frequentada pela menina-filósofa. A banca (kiosco de diarios, em espanhol) ainda está lá, embora com diferente dono.
Virando a esquina, na rua Balcarce 774 está o antigo armazén “Don Manolo”, do pai de Manolito, amiguinho de Mafalda que ficava no caixa sonhando em ser Rockefeller. Hoje em dia, o armazém é um quiosque. Uma pequena estátua de madeira representando Manolito decora a fachada do estabelecimento. A família proprietária é a mesma dos tempos de Quino. Quem atende ali é o filho de Don Manolo, isto é, o próprio ‘Manolito’.
A escola onde ia Mafalda com sua turma de amigos – Felipe, Miguelito, Susanita, Manolito e Libertad – está na esquina da rua Peru e da avenida Independencia. Deles todos, quem mais padecia ir à escola era o dentucinho Felipe, que sempre se distraía com outras coisas. A maior parte do tempo com devaneios sobre as aventuras de “El llanero solitário”. Ele próprio admitia: “até minhas fraquezas são mais fortes do que eu!”.
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Pai e filha juntos. Quino e Mafalda (foto gentileza do governo da cidade autônoma de Buenos Aires)
E aqui, o próprio Quino fala sobre a criação de Mafalda:
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maf2MAFALDA, A CONTESTATÁRIA
Aqui segue o prefácio da primeira edição italiana de “Mafalda, a contestatária” – um livro que reunia suas tirinhas – publicada en 1969. O prólogo foi escrito pelo semiólogo Umberto Eco.
Mafalda no es solamente un personaje de historieta más; es, sin duda, el personaje de los años setenta. Si para definirla se utilizó el adjetivo “contestataria”, no es sólo para alinearla en la moda del anticonformismo. Mafalda es una verdadera heroína “rebelde”, que rechaza el mundo tal cual es. Para entender a Mafalda es necesario establecer un paralelo con ese otro gran personaje cuya influencia, evidentemente, no le es ajena: Charlie Brown.
Charlie Brown es norteamericano; Mafalda es sudamericana. Charlie Brown pertenece a un país próspero, a una sociedad opulenta a la que busca desesperadamente integrarse mendigando bienestar y solidaridad. Mafalda pertenece a un país lleno de contrastes sociales que, sin embargo, quiere integrarla y hacerla feliz. Pero Mafalda resiste y rechaza todas las tentativas. Charlie Brown vive en un universo infantil del que, en sentido estricto, los adultos están excluidos (aunque los chicos aspiren a comportarse como adultos). Mafalda vive en una relación dialéctica continúa con el mundo adulto que ella no estima ni respeta, al cual se opone, ridiculiza y repudia, reivindicando su derecho de continuar siendo una nena que no se quiere incorporar al universo adulto de los padres. 


 Ya que nuestros hijos van a convertirse -por mérito nuestro- en otras tantas Mafaldas, será prudente que la tratemos con el respeto que merece un personaje real.

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